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Quem é o campeão do mundo pelo São Paulo que proíbe palavrão e evita dar treino tático na base
Adílson conquistou oito títulos pelo Tricolor e tem até hoje o recorde de partidas seguidas como titular; atualmente, ele comanda a equipe sub-13: "Não tiro o drible de ninguém"
GLOBOESPORTE.COM / JOãO PEDRO BRANDãO
Quando era zagueiro, Adílson cometia poucas faltas e detestava dar chutões para frente. Hoje, como técnico do sub-13 do São Paulo, ele prioriza a técnica apurada aos ensinamentos táticos.
Essa é a filosofia adotada pelo ex-jogador, multicampeão pelo Tricolor nas décadas de 80 e 90, para tentar se tornar um bom formador de atletas, como foram Telê Santana, Cilinho e Pepe, suas inspirações.
– No sub-13, eu não faço nenhum tipo de tática, mas faço muito trabalho técnico. Deixo jogar futebol. Uma das coisas que prezo muito é não tirar o drible de ninguém. Eles podem fazer o que quiserem no jogo. Eu falo: se vocês quiserem dar um chapéu, dar um boné, façam! Mas com o objetivo de fazer o gol, sempre para frente. Essas coisas eu peguei do Cilinho.
– O Telê também trabalhava muito a parte técnica. Ele sempre dizia para nós: não adianta você fazer a parte tática se eles não têm a técnica. Então, como são crianças, nós trabalhamos bastante a parte técnica. Telê e Cilinho foram os professores que eu sempre coloquei algumas coisas deles no meu tipo de trabalho – completou Adílson.
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Cilinho foi responsável por revelar diversos jogadores no São Paulo, em especial os que formaram o time que ficou conhecido como "Menudos do Morumbi", que contava com Muller, Silas e Sidney. O apelido era em alusão à famosa banda de Porto Rico que fazia muito sucesso à época.
As estratégias dele estão na cabeça de Adílson até hoje:
– Cilinho dava bolinha de tênis, depois de borracha e depois a normal. Quando você pegava a bola normal, parecia que tinha dimensões diferentes e isso faz com que domine melhor e tenha mais confiança no dia a dia. Lá atrás, em 1985, 1986, ele já fazia o treino em campo reduzido e agora todo mundo fala do reduzido. Ele estava muito à frente...
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A educação dos garotos é algo de extrema importância para Adílson, que se preocupa em formar não apenas jogadores, mas boas pessoas para a sociedade.
– No meu treino não tem palavrão, não gosto de palavrão, porque eu acho que o palavrão traz coisas ruins para o grupo. Eles entenderam isso aí... Outro dia um segurança aqui veio falar comigo que ouve os pais conversando e eles dizem que os meninos melhoraram o comportamento em casa – contou.
Do recorde de jogos à saída conturbada
Como jogador, o ex-zagueiro tem oito títulos pelo São Paulo: Mundial de 1992, Copa Libertadores de 1992 e 1993, Brasileiro de 1986 e Paulista de 1987, 1989, 1991 e 1992.
Apenas seis jogadores têm mais títulos do que ele pelo Tricolor. Rogério Ceni (18), Ronaldão (12), Zetti (11), Muller (11), Cafu (10) e Raí (nove).
Adílson tem também o recorde de maior sequência de partidas como titular do São Paulo. Foram 52, de setembro de 1987 a 1989.
Apesar de todas essas conquistas e do sucesso dentro de campo, com 136 vitórias, 81 empates e 49 derrotas com a camisa tricolor, sua saída não aconteceu da melhor forma.
Após o titulo mundial de 1992, o ex-zagueiro recebeu uma proposta importante do Gamba Osaka, do Japão, mas encontrou barreiras na diretoria da época.
– Eu ia fazer um contrato de cinco anos. Estava tudo certo, de repente, quando voltei para o São Paulo em 93, que era para poder viajar, aconteceu um monte de problema e acabei não indo – contou Adílson.
A pedido de Telê, o zagueiro renovou o contrato com o Tricolor por um período curto para a temporada de 1993, foi campeão de Conmebol Libertadores, mas logo se despediu rumo ao Guarani.
– Eu fui obrigado a renovar o contrato de três meses com o São Paulo, para disputar a Libertadores que o Telê tinha pedido. Eles me falaram: só vamos pagar isso para você.
– Isso me deixou bastante magoado. O São Paulo é soberano sempre, mas as pessoas que estavam lá me prejudicaram nesse sentido. E aí eu resolvi ir para o Guarani. Tinha uma transação do Jura, que era do Guarani, vindo para o São Paulo, nós fizemos, e eu fui – encerrou o ex-zagueiro.
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Longe do exterior e da Seleção
Sem conseguir a sonhada transferência para o Japão, Adílson encerrou a carreira sem atuar fora do país. Depois de sair do São Paulo, ainda teve uma oportunidade de jogar em Portugal, mas acabou não se concretizando pela ausência de jogos de Adílson pela Seleção, algo que era exigência à época.
A última oportunidade surgiu quando Raí, seu antigo companheiro de Tricolor, estava no Paris Saint-Germain. O camisa 10 do título mundial de 1992 recomendou o amigo ao clube francês, mas quando parecia caminhar para um desfecho positivo outro empecilho apareceu.
– Tive uma outra chance, quando o Raí foi vendido para o Paris Saint-Germain. Um mês de PSG, ele me liga: "Olha Adílson, eu quero te trazer aqui para o Paris Saint-Germain, quer vir? Mas você vai ter que fazer uma experiência". Só que naquela semana o treinador que ia me levar para lá caiu, foi demitido.
O zagueiro terminou a carreira sem atuar por clubes estrangeiros, mas jogou em outros gigantes do Brasil, como Internacional e Fluminense.
O atual técnico do sub-13 do São Paulo não carrega mágoas sobre a impossibilidade de jogar fora do Brasil e na Seleção, mas crê que ficou faltando um pedacinho de história em sua carreira.
– Acredito que faltou esse pedaço, mas mágoas jamais, porque naquela época tinha Mozer, Ricardo Rocha, Ricardo Gomes, Júlio César, Mauro Galvão, muitos zagueiros de alto nível – encerrou Adílson.
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